O GRANDE ALVICELESTE DO PARANÁ DESBOTOU?
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por Walter Bittar
Os apaixonados pelo futebol conheceram na década de 70 do século passado que, no distante norte do estado do Paraná, existia um time de futebol aguerrido e que apresentou sua mandíbula poderosa ao resto do país, naquela surpreendente campanha no campeonato brasileiro da 1ª divisão, iniciado em 1977, quando o manto alviceleste, de cores vivas em listras verticais azuis e brancas ganhou as manchetes dos principais meios de imprensa do Brasil, ao ferir mortalmente uma série de grandes clubes nacionais.
A partir dali a camisa azul celeste e branca, semelhante à da tradicional seleção argentina de futebol, correu estrada e chegou até a ganhar exposição global no programa do humorista Chico Anísio, em uma esquete com o personagem, ligado ao futebol, o jogador “Qualhada”, muito popular à época. Detalhes históricos e pitorescos à parte, certo é que o uniforme do Londrina Esporte Clube, já conhecido nacionalmente como Tubarão, ganhou fama pela sua força e beleza estética.
Passadas algumas décadas do importante marco histórico, e após deixar a elite do país no futebol, o já popular clube paranaense passou por altos e baixos, chegando quase a fechar as suas portas, o que não aconteceu graças a um de seus mais apaixonados torcedores, Agostinho Miguel Garrote, que assumiu a presidência do clube em seu momento mais turbulento. Mesmo assim, as tradicionais listras do alviceleste, nunca deixaram de estar presentes em cores vivas na camisa do clube e sua torcida, embora muitas vezes magoada com más campanhas, em maior ou menor número, nunca abandonou a paixão pelo azul celestial, sempre marcando presença em momentos importantes.
Entretanto, após novo período de crise, o clube passou a administração da sua equipe de futebol a uma empresa não vinculada a região, mas comandada por uma administração empresarial, e do ramo futebolístico, reacendendo as esperanças de dias (e resultados) melhores, daqueles amealhados à época, em especial o retorno a 1ª divisão nacional.
Com proposta de gestão empresarial, comandada por um conhecido empresário do ramo, a SM Sports, toma a frente da administração da equipe (já há mais de uma década) e, de fato, consegue retomar a trajetória, com um ou outro ano ruim, de títulos e boas campanhas nos certames regionais e nacionais, resgatando antigas tradições de surpreendentes e importantes conquistas, novamente atraindo antigos e novos torcedores ao estádio do Café.
Em uma aparente bem sucedida estratégia, a empresa apresentou anos atrás uma opção de camisa do Londrina, com uma – inédita – prevalência da cor preta, a título de ser um terceiro uniforme de jogo, algo em moda nos times de futebol pelo mundo, cujo modelo de camisa alcançou expressiva comercialização e caiu no gosto de parte da torcida.
O preto passou então a sempre fazer parte, não apenas do terceiro uniforme do clube como, vez ou outra, surgia entre alguns poucos torcedores bandeiras pretas e azuis, e até mesmo nos uniformes oficiais de jogo, cujo azul celeste surgia cada vez mais claro e opaco, ou em uma linguagem mais direta: desbotado.
Outro fato que não passou despercebido, foi o uso excessivo do uniforme preto, ou mesmo outras versões em azul escuro, em jogos oficiais, mesmo quando o mando de jogo era do Londrina e o uniforme tradicional não possuía, nenhuma semelhança com o utilizado pelo adversário, para justificar o não uso da primeira, ou mesmo segunda (branca) camisa do clube.
Mas uma curiosa, e não tão agradável, coincidência surge nesse interregno: o desprestígio a tradicional camisa alviceleste, cada vez mais desbotada, culminou com o afastamento do torcedor do estádio, combinado com um crescente desinteresse pelo escrete alviceleste, mesmo quando surgiam bons resultados.
Obviamente, não é o uniforme o responsável pelo afastamento da torcida, mas é curioso que, ao lado do uso da cor celeste cada vez mais desbotada, ao contrário daquele tom sempre utilizado historicamente, o Tubarão esteja cada vez mais distante de seu torcedor.
Finalmente, e deixando claro que a volta do torcedor para a vida do clube depende de inúmeros fatores, tais como, boa campanha, melhoras nas instalações do estádio, ações de marketing, mudança de tom da atual gestão, e etc., o uniforme utilizado deverá observar o tom de azul celeste histórico, bem como reservar a terceira camisa, atualmente uma combinação de tons azuis escuro, apenas para situações excepcionais (camisas muito parecidas), mas nunca ser utilizado no estádio do café, pois cabe ao mandante a opção de escolha do uniforme.
Quem sabe assim, o Tubarão, aliando outras ações, volte as suas origens, retome suas tradições e traga de volta seus fiéis torcedores, abrindo espaço para que os novos se apaixonem pela instituição quase septuagenária, e que representa toda uma região, e como diz o hino “no seio de um povo que tem muita fé”.
Cordiais saudações alvicelestes e, apesar dos pesares, vamos nos unir rumo ao retorno da sonhada série A.
*Walter Bittar, advogado e torcedor do Londrina Esporte Clube