19 de maio de 1957 (em Londrina), a primeira vez que vi Pelé jogar

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Por Carlos Verçosa

Uma festa de oito gols
A primeira vez que eu vi Pelé jogar foi contra o meu primeiro time, o time de coração, aquele que a gente
nunca esquece, o Londrina.

O jogo foi no famoso Vitorino Gonçalves Dias, estádio inesquecível, onde o pecado morava ao lado, na zona. E não era a zona do agrião, não.

Fui feliz da vida: eu tinha feito 7 anos durante a semana, aí Seu Acrisio, meu pai, me deu de presente gibis, um disco de um tal Elvis Presley, (um carinha que cantava músicas num ritmo rápido chamado rock), e, uau, me convidou pra ir com ele ver o Londrina jogar contra o Santos no domingo.

Santos, bi-campeão paulista que, dias antes, havia enfiado 3 a zero no Palmeiras (pelo antigo Torneio
Rio São Paulo), então um timaço.

A molecada daquele tempo não tinha a facilidade das nuvens da web ou sinais da TV, mas era antenada com as ondas hertzianas de inesquecíveis transmissões que permitiam “ver” os jogos pela voz
e pelos bordões dos seus narradores na ‘rádia’.

O Londrina comemorava um ano de fundação, daí o slogan pretensioso, assumido desde o início – antes mesmo de entrar em campo: Caçula Gigante.

Quando contei que ia ao futebol de verdade, no Vitorino, ver o Londrina pegar o Santos para os da minha turminha de primeiro ano (no velho Grupo Escolar Evaristo Da Veiga), me senti importante, o cara.

Teve colega enciumado que comentou: “Mas logo o Santos… Ainda se fosse o Corinthians, ou o São Paulo ou até o Palmeiras…”

Sim, eram os times de maior torcida, mas o Santos já despontava como time de craques, com nomes como Fioti, Del Vecchio, Jair Rosa Pinto, Zito, Dorval, Pagão e Pepe.

Meninos, eu fui. Jogadores famosos que só conhecia de ouvir “na rádia”, eu vi de pertinho, agarrado no alambrado, junto com meu pai.

Mas aquele jogo foi um desastre para o pequeno torcedor do Londrina.
Para os grandes também. Sete a um. Uma dor e uma sensação de vazio e boca amarga que só voltei
a sentir outra vez mais de 50 anos depois, na Copa do Mundo 2014, no desastre da seleção brasileira contra a Alemanha.

1 X 7, um vexame.

A goleada começou já no primeiro tempo. Tanto que Pelé, um garoto do banco de reservas só entrou no segundo tempo.

Foi um espanto. Ninguém tinha visto alguém jogar tanta bola assim e ele era só um moleque no meio da homaiada.

Pelé bateu um bolão.

Infernizou com meu time: marcou dois gols e desafiou o vento, buscando, driblando e fazendo jogadas impossíveis.

Acabou aplaudido pela torcida.

Os outros gols foram marcados por Pepe, que tinha um canhão nos pés (também 2 gols), Pagão e (ok Google, obrigado) Álvaro e Breno.

Alaor fez o gol de honra do Londrina.

Na rádia, a explicação: o garoto Pelé (então com 16 anos) nem tinha sido contratado ainda pelo Santos como jogador profissional.

Ele vinha atuando no time principal, e marcando gols, há mais de um ano como jogador do time amador.

Só assinou seu primeiro contrato dois meses depois daquele jogo memorável contra o Londrina.

Logo em seguida, foi convocado para jogar na Seleção Brasileira, estreando num daqueles torneios
sul-americanos, contra a Argentina.

Perdemos, mas Pelé fez o gol dele nos hermanos.

Daí até a Copa do Mundo da Suécia, no ano seguinte, foi um pulo e muitos gols pelo caminho.

Pelé, com seu talento inquestionável, foi construindo uma carreira substantiva, exemplar, e se tornou adjetivo que identificava craques de várzea e tantas e tantas crianças negras brasileiras.

Virou o Rei do Futebol.

Um símbolo, referência do Brasil no exterior: Pelé, Brasília, a bossa nova.

Com ele, o Santos foi o melhor time do mundo por duas vezes e a Seleção Brasileira campeã com Pelé nas quatro Copas que disputou, até o tri, em 1970.

Um ano antes, foi o primeiro jogador de futebol a alcançar a marca de mil gols, feito que dedicou às crianças, sonhadoras como ele.

A criança que sempre existiu em mim, longe de ficar magoada por causa daqueles humilhantes 7 a 1 de 1957, passou a admirar cada vez mais o jogador que vi crescer a cada filme nas matinês do Canal 100 e nas pioneiras transmissões em preto e branco da televisão.

Diz a lenda que, depois daquele jogo, o Londrina contratou Pelé e ele chegou até a posar com a camisa gloriosa do, hoje, Tubarão.

Negócio feito de boca, fio de bigode, como acontecia muito naquele tempo. Mas o Santos voltou atrás e contratou oficialmente Pelé para o time profissional.

Sempre imaginei como teria sido Pelé com a camisa dez do Londrina.

Poderia não ter a ascensão fulminante, acachapante, que teve no Santos, mas, com certeza, teria rendido muita alegria, com juros e correção, pela decepção causada no pequeno torcedor.

É isso. A primeira goleada a gente nunca esquece. Principalmente com gols e show de Pelé contra o nosso primeiro time de coração.

Menino ainda, eu vi.

Carlos Verçosa

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